Pirâmide de treinamento



       A pirâmide ou escala de treinamento foi desenvolvida em 1912 na Europa pelo general von Redwitz e o coronel Hans von Heydebreck e foi incluído no manual alemão após a segunda guerra mundial. Hoje é considerado na equitação clássica como os pilares da equitação e leitura obrigatória para instrutores de adestramento. No entanto, ela pode ser aplicada para qualquer cavalo em qualquer modalidade. Sua finalidade principal é preservar os movimentos naturais do cavalo quando montado. Em 2007, a Federação de Adestramento dos EUA padronizou e publicou uma pirâmide de treinamento ‘oficial’ que, como visto na figura abaixo, tem seis degraus ou objetivos que devem seguir esta ordem mas não necessariamente levam o mesmo tempo para serem alcançados, variando para cada indivíduo. 

     Serve tanto como guia para o desenvolvimento do cavalo jovem, quanto como instrumento de aprimoramento de cavalos nos mais altos níveis de competição. A regra mais importante para a utilização da Escala é: só passe para o nível seguinte quando tiver dominado bem o anterior. E naturalmente, regrida ao nível anterior se tiver problemas com seu cavalo. O passo-a-passo é de extrema importância, e os níveis estão interconectados. Por exemplo, um cavalo que não tem retidão não conseguirá desenvolver boa impulsão, ou é improvável que um cavalo tenso tenha ritmo.



Existe porém uma divergência entre autores em relação à ordem entre ritmo e relaxamento, no entanto, o ritmo é considerado em primeiro lugar pois ele pode ser alcançado por qualquer cavalo mesmo no início da doma. O Ritmo significa o cavalo permanecer na mesma velocidade e amplitude de passo e preservar a cadência natural das andaduras, ou seja, quatro tempos no passo, dois tempos no trote (que é uma andadura diagonal) e a três tempos no galope. Para compreender o ritmo, o cavaleiro deve conhecer profundamente a mecânica dos andamentos. Ao passo que o cavalo inicia o trabalho e aquece a musculatura, inicia-se a próxima fase, que é a de relaxamento.



O relaxamento não é apenas muscular, ele é, principalmente, mental e psicológico e porque não dizer também espiritual, como Tom Dorrance costumava mencionar, o terceiro fator que deveria ser considerado no treinamento de qualquer cavalo. Nisso deve ser levado em consideração a relação que o cavaleiro mantem com seu cavalo, que inclui o respeito, a confiança e a capacidade de se colocar no lugar do animal e enxergar através de sua perspectiva.  Em resumo, relaxamento é a ausência de tensão, onde o cavalo se submete com suavidade às ajudas do cavaleiro. Essa descontração pode ser obtida através do ritmo, o trabalho de chão na guia é especialmente indicado para melhorar o relaxamento no treinamento. A descontração está diretamente ligada à flexibilidade do cavalo que pode ser longitudinal e lateral. A flexibilidade longitudinal se reflete na garupa, dorso, pescoço, nuca e maxilar, dando ao cavalo a habilidade de manter-se na mão, enquanto oscila entre movimentos mais alongados, que requerem um deslocamento de seu peso para frente, e movimentos reunidos. A flexibilidade lateral é percebida pelo grau de encurvatura que o cavalo consegue atingir, na execução de círculos e movimentos laterais, sem perder o ritmo. Quando o cavalo está descontraído, fica feliz, se move com facilidade, masca suavemente a embocadura e balança a cauda no ritmo do andamento.



Com o cavalo ritmado e descontraído já podemos procurar o contato, que é solicitar do cavalo o apoio no bridão, através do encurtamento das rédeas e ao mesmo tempo as ajudas de perna do cavaleiro, empurrando o cavalo para frente de encontro ao bridão, o que já nos leva para a próxima fase que é a impulsão. A aceitação do bridão se traduz pela comunicação constante entre as mãos do cavaleiro e a boca do cavalo, buscando um contato constante e leve, em que a cabeça do cavalo se aproxime cada vez mais da vertical, mas evitando ao mesmo tempo o encapotamento. O bom contato existe quando o dorso do cavalo está elevado, os posteriores engajados, a nuca alta, o maxilar relaxado, e a cabeça ligeiramente à frente da vertical. No contato ideal, o cavalo encontra seu equilíbrio, e aprende a deslocar seu centro de gravidade de acordo com a situação sem, por exemplo, apoiar-se na embocadura. Disto advém o conceito de conexão. Para que o contato seja ideal, o cavaleiro deve aprender a dosar as ajudas adequadamente. Ele nunca deve ocorrer da frente para trás, ou seja, puxando-se as rédeas, mas sim de trás para frente, quando o movimento gerado nos posteriores leva o cavalo ao contato nas rédeas. Nessa fase é essencial que o cavaleiro saiba responder à progressiva aceitação do cavalo por correspondente suavização das ajudas, o que irá deixar o cavalo descontraído, ritmado, buscando o contato e pronto para a impulsão.

A impulsão é o resultado direto da energia criada pelas ajudas do cavaleiro. O cavalo impulsionado mostra clara vontade de deslocar-se para frente, movimentando o dorso e engajando os posteriores, com fluidez e energia. A impulsão também engaja a mente do cavalo, focando sua atenção no cavaleiro. Para se obter a impulsão adequada é necessário, voltamos a repetir, dominar os estágios anteriores da Escala: o cavalo deve ter ritmo, descontração e contato ideal. O treinamento adequado faz com que o cavalo se impulsione sem que o cavaleiro precise empurrá-lo o tempo todo. Porém deve-se tomar cuidado para se ter um equilíbrio correto entre impulsão e relaxamento. O cavalo não pode deixar de estar relaxado por causa da impulsão. E também não deve estar totalmente relaxado sem impulsão. Devemos dar ao cavalo a impulsão suficiente para mantê-lo na mão.  O nosso assento é a torneira por onde flui a impulsão. Sempre buscamos ter impulsão, pouca mão e pouca perna. Quanto maior a impulsão, com mais energia se movimenta o posterior do cavalo - movimentação esta acompanhada por um dorso bem colocado que transmite a energia para frente - e está só será aproveitada se o corpo do cavalo estiver preparado para recebê-la: o que significa a adequada colocação da coluna vertebral e da musculatura dorsal. Isto só acontece com o pescoço bem encurvado a partir da nuca, a partir do apoio no bridão. É necessário destacar que o andamento impulsionado não é “corrido”, e deve ser desenvolvido criteriosamente durante o treinamento.

Cavalos têm sempre um lado mais fácil que outro. Assim, tendem naturalmente a se entortar. Tal como os seres humanos são canhotos ou destros, o cavalo nasce com esta tendência impressa em seu cérebro. A retidão significa manter os posteriores do cavalo seguindo a mesma linha dos anteriores, e seu corpo paralelo à direção do movimento. Para atingi-la, é necessário realizar um trabalho focado no desenvolvimento equilibrado de ambos os lados do cavalo – ginástica –, para neutralizar suas tendências naturais. A retidão é de suma importância no desenvolvimento do cavalo, pois permite que seu peso e o contato com as ajudas do cavaleiro sejam distribuídos igualmente para ambos os lados, que o cavalo empurre-se com os posteriores equilibradamente, e para atingir a reunião, uma vez que essa depende do deslocamento do centro de gravidade para trás. É necessário ressaltar que uma cavalo “reto” não está necessariamente com a cabeça e pescoço retos em relação ao corpo, mas sim com encurvaturas condizentes com o movimento a ser executado. 

No topo da pirâmide jaz a síntese de todos os estágios anteriores, e o objetivo final do adestramento: a reunião. Esta envolve o “abaixamento” da garupa, levantamento – e leveza – da frente, passadas mais curtas e alçadas. Os posteriores passam a mover-se bem abaixo do corpo do cavalo, para sustentar o levantamento da frente. A conseqüência natural é uma mudança do centro de gravidade do cavalo, à qual ele deve responder com perfeito equilíbrio, ou seja, deverá ser alterado ao máximo a distribuição natural de massa sobreo corpo do animal, conferindo maior impulsão e amplitude nos andamentos. O cavalo ao natural suporta cerca de 60% do próprio peso sobre os anteriores e apenas 40% sobre os posteriores. Esta distribuição não exige muito esforço, mas tampouco permite grande amplitude de movimento e grandes explosões de energia. Todo treinamento deve fortalecer o dorso e os membros do cavalo, progressivamente deslocando seu centro de gravidade para trás. Assim, um cavalo de nível intermediário terá a distribuição de massa alterada para cerca de 50/50, e para 40/60 no nível avançado. É na reunião que a auto-sustentação do cavalo fica mais evidente e, através dela, todos os andamentos são aperfeiçoados. A reunião é preponderante na realização de movimentos de alto grau de dificuldade, como mudanças de pé ao galope e piruetas. Requer grande força muscular, daí a importância de desenvolver um trabalho escalonado com seu cavalo antes de tentar obtê-la.  

Apesar de estar descrito na pirâmide todos os ensinamentos para treinamento do cavalo, acredito que falta a abordagem do treinamento do cavaleiro, bem como, a pirâmide não fala da importância da comunicação e boa relação  que deve ser estabelecida entre homem e cavalo antes que qualquer 'treinamento' aconteça. As idéias promovidas pela pirâmide se referem à habilidades mecânicas ao invés do 'feel' - da imagem, do que deveria parecer, ao invés do verdadeiro entendimento do porque, como e para que.

Abaixo segue uma outra versão da pirâmide proposta por Terry Church, levando em consideração também esse lado 'natural', do 'feeling' e do papel do treinamento do cavaleiro e da relação entre cavalo e cavaleiro.








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Damiana Bem é apaixonada por cavalos e amazona de salto pela escola de equitação da Vila Militar (RJ) e equitação western (rédeas). Formada no curso de formação de treinadores de cavalos da Universidade do Cavalo (UC), cursou o nível Superior em Gestão de Equinocultura e tem experiência em manejo, doma e treinamento, gestão de centro equstre e aulas de equitação e rédeas na UC (Sorocaba), Vila Militar (RJ), Centro de Treinamento Mauro Leite (CTML - Paraná) Hotel Fazenda Pitangueiras (SP) e Haras Medalha de Ouro (São Roque - SP).

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